quinta-feira, 13 de novembro de 2008

UM CAMPEÃO

Conheci ele quando ainda era um garotinho, cheio de sonhos e ideais. Sua vontade de jogar futebol era como a de qualquer menino da Escolinha do Cruzeiro, mas tinha em si um conteúdo diferenciado. Ele era falante, inteligente, destemido e a sua autoconfiança se traduzia em resultados diferenciados dos outros que compunham o grupo de quase uma centena de "piás" no Cruzeirinho. O menino treinava e tinha trejeitos de goleador.
Passaram-se vinte anos para que eu descobrisse ter sido responsável por algo que não me perdôo. Talvez para frear a impetuosidade do menino ou pelo meu bestial descuido, deixei de escalá-lo para uma excursão, aliás, a única que promovi na época em que abri a escolinha. Mas é imperdoável, "não podia ter deixado o guri fora da viagem". Ele era tão bom "atleta" quanto os outros, mas no afã de completar um número e sem a necessária meticulosidade, deixei-o fora da lista dos convocados.
Mas o meu mal feito, não criou seqüelas, destarte o fortaleceu para alcançar tão sonhado feito de viajar e jogar vestindo a "azzurra do raposão". Mais que uma excusão(zinha) para uma cidade vizinha, ele atravessou fronteira e foi logo a outro País para representar nosso glorioso estrelado. Ele merecia que eu festejasse, mas na época me atinha à responsabilidade de prover a família e... não vi o que se escancarava à minha frente.
Hoje, vejo o menino crescido a se banhar em lençóis de areia e percebo que ele nasceu pra ser Campeão. Enfim, quando lembro de tão valiosos momentos que desperdicei por não observar os detalhes, me ponho a pensar: -Qual a razão de somente aprendermos o certo depois que ficamos velhos?
Ricardinho ou, como diz o Velho Mestre Menges: Nosso queridão DÃO.
Hoje, tantos anos passados, quero relembrar daquele garoto destemido e sonhador, que guardava no peito um coração grandioso. O filho da Dona Marlene. irmão do Patola companheiro de mal fadados agitos, vibra pela alegria de cada um dos irmãozinhos que conviveram com ele aqueles saudosos e difíceis tempos.
Mas não existe mais a nossa escolinha, não temos mais excursão! Resta-me dizer que de nossas conversas no tapete verde (cheio de cucurutos) do Alceu carvalho, nasceram lições que carrego para o resto da minha vida e uma das mais importantes é esta que tive há dois dias, pois há mais um Campeão que preciso reverenciar. É uma questão de Justiça. Dão, podes crer, a exemplo dos que partilharam daquela jornada, és um grande Campeão!

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