Esta é uma carta que escrevi ao Amigo Paulo Sérgio, Vice-Presidente da Rede Pampa. Leia e envie um comentário se devo enviar a ele ou não.
Joaçaba-SC, 07 de novembro de 2008. (Dia do Radialista)
Alô Paulo Sérgio
Espero que esta carta o encontre em um momento alegre e de felizes realizações. Deves achar estranho que te envie esta carta, mas foi a melhor forma que encontrei para me comunicar com o Amigo, já que estando distante, dificilmente seria atendido ao telefone. Observo que esta correspondência não tem o fito de lançar qualquer tipo de lamúria ou evidenciar qualquer mágoa, pois não as retenho, mas as substituo por pensamentos de afeto e compreensão com aqueles que de uma forma ou de outra participaram da história de minha vida. Ela também nasce da necessidade de expressar algumas idéias que passei para Marne Barcelos e creio tenham sido lançadas no esquecimento na medida que exigem um certo desprendimento e alguma transpiração para sua materialização.
São idéias que construí ao longo de mais de vinte anos de atuação no Rádio e que se constituem em princípios pouco observados nesta casa (Rádio Pampa AM). Também decorrem da minha constatação ao fato de uma das mais consagradas marcas sonoras do meu amado Rio Grande estar se deixando levar Orfanatrófio abaixo. A Rádio Pampa ocupa em verdade, as últimas colocações junto ao público ouvinte do Estado e não tem uma boa posição no mercado radiofônico da capital, devido a aspectos que seriam de fácil superação na medida que ela reúne alguns pressupostos que mesmo valiosos, ficam a mercê de uma rodada extemporânea do dial pelo ouvinte. A Rádio vai ao ar e é só.
Também entendo que a vida atribulada e as muitas ocupações com as demais emissoras e a TV deste amigo sejam fatores preponderantes para tal realidade já que quando o PSP atuava mais diretamente junto à Emissora, as coisas aconteciam de forma diferente. Senão vejamos: Fui recebido na Emissora por Marne que teve como primeira mensagem “Não tenho nem uma Mesa para sentar”. Creio que uma Rádio não necessite de mesa para sentar e sim de paixão, combustível de valor inestimável para as organizações de comunicação social, especialmente as emissoras de Rádio.
O que expresso agora pode parecer inviável, mas sei que se desenvolvido com criatividade e economia, pode quebrar o paradigma do “impossível”.
Caro Amigo, sugiro que a Rádio tenha uma formatação com padrão de estilo, recebendo uma roupagem moderna. Ferramentas como Soud Forge da Sony e Vegas, podem promover uma verdadeira revolução no que tange à produção artística da emissora. São softwares atuais e de enorme utilidade com custos irrisórios de instalação.
Emissoras como a Rádio Capital de São Paulo e Globo do Rio de Janeiro, são referenciais de sucesso e que tem por base outras de renome internacional como WNYC de New York e Radio London da Inglaterra. A vinhetagem da Pampa precisa ser dinâmica e identificada como uma Tribuna de verdade, porém atual e, convenhamos, hoje as Tribunas são bem mais ágeis do que aquelas que tínhamos no século XX. Além da qualidade da palavra, não se deve prescindir da sonoridade e nesse quesito a Pampa é a mais fraca que eu já ouvi. Imagine colocar Roberto Carlos lendo sem melodia as letras de suas músicas em um gramofone do século XIX ou mesmo tirar o espaço binário das obras dos Beatles e fazer com que Let it be seja cantado em ritmo quaternário de marchinha. É uma analogia grosseira, todavia é um diagnóstico coerente para a realidade da emissora.
Os produtos sonoros hoje desenvolvidos na Pampa também são de difícil comercialização, pois da forma que estão elaborados, não conduzem qualquer apelo comercial. A Rádio não se define se é popular, erudita, jornalística, questionadora ou esportiva. A lei regente é a do “gasto pouco e vou levando”, quando deveria ser do “gasto pouco e vou ganhando”. Faça programas com planejamento determinado e fim específico e transformará a Pampa em um produto verdadeiramente rentável. As pessoas que aí trabalham estão “fazendo para o gasto” e as que se chamam de colaboradoras estão “brincando de fazer rádio”. Ora, isso é ridículo e totalmente infrutífero. Há pouco mais de cinco anos, com três computadores, um estúdio-zinho, um transmissor de 30 KW e uma torre de trinta metros, o saudoso Haroldo de Andrade provou o que afirmo agora com sua novel emissora instalada nas cercanias da capital fluminense. Ele partiu deste mundo deixando a lição de que uma boa Rádio é composta de coragem e talento, sem dispensar o binômio PLANEJAMENTO/PAIXÃO.
Coloque dois “aventureiros” e “para-intelectuais” comentando notícias de jornais durante duas horas pela manhã de segunda a sexta-feira e estarás fazendo nada. Se apenas uma pessoa conduzir uma produção dinâmica com edições jornalístico-sonoras pré-pautadas na noite anterior e a “produtora” do programa tiver sensibilidade de ouvir os fatos mais clamorosos do período, estarás alimentando os âncoras com algo fundamental que se chama CONTEÚDO e que não se vê na Pampa, pela simples falta de atualização com ferramentas que hoje simplificam e tornam eficaz o exercício da produção jornalística.
No campo publicitário, observa-se uma enorme falta de identidade do contato ou do representante com o produto, aspecto basilar para atingir êxito junto ao mercado da mídia. Os contatos publicitários precisam ser sabedores do que estão comercializando, mas se vê uma grande confusão quando alguém oferece o produto Pampa. Rádio, TV, jornal?
Pois bem, hoje trabalho em uma empresa que detém a concessão de três emissoras de rádio na mesma cidade. Cada Emissora tem o seu departamento de publicidade e só para dar um exemplo, a emissora AM já ultrapassou a meta de R$ 2,2 milhão de faturamento para o exercício de 2008, o que não é pouco diante do potencial financeiro no mercado de atuação interiorano.
As FMs, mesmo concorrendo entre si, alcançam juntas cifras similares com custos infinitamente menores. Na AM, apenas cinco profissionais cobrem jornalisticamente uma região com cerca de 15 municípios e é a emissora mais premiada do Estado de Santa Catarina há mais de 15 anos, consecutivamente. A Emissora AM promove eventos artístico-culturais, cobre o esporte regional, estadual, nacional e internacional e tem como principal característica ir onde o povo está. Recentemente dois troféus do Prêmio Acaert de Rádio e TV foram para um comentarista e também para um repórter da emissora, sendo que eu mais seis fomos finalistas em nossas áreas de atuação e o 1º lugar do Prêmio UNIMED também foi conquistado pela Emissora.
É uma rádio que mescla o estilo sulista com o padrão internacional de produção, ou seja, a AM interagindo no cotidiano com um encorpado noticioso jornalístico, esportivo e policial, programação popular com apelo cultural às classes C,D e E e, naturalmente, abraçando as classes A e B, interessadas em descobrir o que o mundo dos que “não” fazem acontecer, está produzindo de realidade para o cotidiano da urbe.
Os movimentos sociais não poucas vezes apelam a esses microfones e em igual demanda as lideranças e autoridades alcançam visibilidade intervindo nos acontecimentos da região através da grande audiência conquistada encima de um trabalho dinâmico, sério e em permanente atualização, conquistado ao longo de anos de trabalho.
Mas também é uma rádio que não promove estrelas solitárias. Não há autopromoção na programação, mas se desenvolve uma plena integração entre os profissionais, enaltecendo o que vem a seguir de forma quase que familiar. Todos são profissionais comunicadores, detentores de credibilidade e compromissados em atender aos clamores populares, cuidando em enaltecer aspectos valiosos do dia a dia da região, do Estado e do País, mas concentrando uma visão incisiva e crítica com embasamento legal diante dos fatos atuais. Não se resgatam fatos do dia anterior, mas se desenvolve um acompanhamento pleno diante dos reflexos advindos destes acontecimentos que foram e continuam notícias.
Enfim, minha mensagem é para dizer que sou feliz em estar aqui, que não guardo qualquer rancor diante dos fatos que me afastaram desta empresa e que lamentavelmente o vicejar de minhas idéias e de minha criatividade, relegadas a um segundo plano pelo glorioso Marne Barcelos, hoje estão novamente vigorosas e não mais se deixarão ir à derribada.
Mas, sinceramente Paulo Sergio, imagine se a Pampa for bem planejada, organizada a partir das tendências de um perfil de rádio new talk, aproveitando os potencias disponíveis e enriquecendo com a elaboração de um produto rádio conjunto, não seria bem melhor? Veja meu amigo quanto uma Rádio pode ser rentável e produtiva com a valorização de um ambiente positivo e transformador, sem a necessidade de usar “ícones” de pequenas e esfaceladas tribos pseudo-intelectuais. Repense os programas iconizados e que se movimentam como motor estacionário sem possibilidade de embalar em qualquer sentido! O Rádio moderno requer menos pessoas produzindo mais, sem amarras a clichês ultrapassados de um rádio que ninguém mais quer ouvir. Rompa os seus cadeados e inspire-se no Paulo Sérgio empreendedor, que reúne grande credibilidade calcada em uma história de vida. O povo evoluiu, hoje o rádio é um bem de consumo que precisa obrigatoriamente interagir na vida das pessoas. Sem medo de errar, a maioria das emissoras AM do interior do Estado fazem um rádio bem mais evoluído que a Pampa está fazendo. Por fim, tente ganhar dinheiro salvando um produto que pereceu por acreditar que devia contar com nomes populares para se firmar, mas esqueceu de produzir novos nomes e assim deixou de evoluir como organização.
Peço também que não interpretes minha modesta mensagem como desabafo, porém como sugestão. Abra a manhã da Rádio Pampa com notícias, orientações, reportagens, mensagens e informação real time das ruas de Porto Alegre. Desenvolva sua programação evidenciando o que está acontecendo na cidade, abra canais permanentes com a região metropolitana, fuce os furos já existentes com ação efetiva no sucedâneo da notícia, promova Concurso de reportagem entre os universitários da área de comunicação, dê identidade gaúcha para a única rádio que ainda pode fazer isso neste Estado. Tu diriges uma rádio que pode fazer a diferença e admita o fato: você perdeu a oportunidade de explorar um excelente profissional, criativo, atualizado e disposto para contribuir com os teus ideais. Relegaste-me ao jugo de Marne Barcelos e sequer ouviste o que eu tinha para dizer. Pelo contrário, rechaçaste minha leitura de um reles noticioso em frente a tua empresa e jogaste-me fora como fruta podre.
Mesmo assim, não condeno tua atitude. Realmente não sabias o que estavas fazendo e o que fizeste foi desperdiçar a possibilidade de ver o teu sonho se realizar a partir da valorização de um profissional que conhece o rádio tanto?.. ou creio, mais que qualquer um dos teus colaboradores.
Quanto à minha amizade, independente do que ocorreu no passado, das noites mal dormidas diante dos maiores infortúnios que enfrentei com minha família, continua ela firme e desejosa de que este Grande Árbitro do passado possa continuar sua vida gozando de paz, saúde e felicidade.
Paulo Bandeira