domingo, 28 de setembro de 2008

SONHO DOS MENINOS DA ESCOLINHA

Volto a escrever em meu espaço virtual para abordar o tema Sonho. Tal escrita decorre da necessidade que sinto de retomar o caminho de resgate dos momentos valiosos que tive em minha vida como desportista.
Em meados da década de 80, resolvi que abriria uma escolinha de futebol. O time em que eu jogava não podia pagar um valor suficiente para me manter e com uma escolinha poderia melhorar minha condição de vida. Falei com a diretoria do clube e combinamos que receberia 20% das mensalidades dos meninos atletas.
Em menos de um mês já contávamos com quase 200 meninos na faixa etária entre os 7 e os 14 anos. dividia-os em categorias e todos os dias desenvolvia resenhas e treinamentos. Creio que a força daquelas resenhas/mensagens acabaram convencendo alguns dos garotos de que quando se quer chegar longe, é possível, bastando acreditar.
Contava para eles sobre todo o bem que havia vivido, as experiências, cuidados e proteções necessárias contra os aproveitadores do futebol. Falava sobre os perigos, mas destacava aspectos fundamentais que habitavam o cotidiano dos Grandes Jogadores. Fiz eles crerem que o Grande Jogador é antes um Grande Homem, com dignidade, bom caráter, fé e organização, discilplica e dedicação. Tais mensagens eram passadas com profunda emoção. Eu acreditava que tudo o que não dispuz na minha infância, poderia então proporcionar aos pupilos da Escolinha. No final de cada dia imaginava que se alguém como aquele treinador que eu tentava ser, tivesse cruzado o caminho de minha infância, teria sido um Grande Profissional do Futebol.
Mas passados pouco mais de dois anos, acabei ampliando minha atuação como profissional de rádio e jornal, precisando me afastar daquela atividade. Na época atuava como redator de um jornal regional, repórter de uma rádio e assessor de imprensa da prefeitura da cidade.
Passados alguns anos, descobri que um dos meninos que treinara comigo estava atuando em um grande clube de São Paulo, outro no Rio de Janeiro, depois, soube de um que havia sido convocado para a seleção juvenil do Brasil; mais algum tempo vi um dos meus pequeninos brilhando em um clube da frança, um foi jogar na Ásia, outro estava em um grande clube do México e outro e mais outro, enfim, na minha contagem, daquela meninada, pelo menos catorze dos garotos que passaram pela escolinha alcançaram sucesso na profissão de atleta de futebol. Hoje alguns ainda atuam profissionalmente (veteranos) e outros se aposentaram, mas todos consolidaram uma vida estável e digna.
Neste último final de semana fui transmitir um jogo de futsal da Malwee pelo Estadual e vi um dos meus atletas atuando como preparador físico do time tri-campeão brasileiro da modalidade. Olhei na planilha e o nome era o mesmo. Seria o mesmo? Abri a janela da Cabine e apesar de estar com a torcida à frente, gritei pelo apelido dele. Surpresa!!! Ele virou para a cabine do Ginásio e, terminado o aquecimento, veio em minha direção. Interrompi a transmissão, estava recebendo um jovem daquela antiga turma. Mais um dos motivos de honra para este quase treinador.
Contou-me do sucesso que alcançou no esporte e da saudade que tinha dos tempos em que eu fazia eles viajarem com resenhas que pareciam impossíveis na mente da garotada.
Contive minhas lágrimas naquela hora, mas hoje, frente ao computador, expresso minha felicidade em ver que mais um dentre aqueles que não estavam nos meus cálculos, também acreditou nas minhas rezenhas.
Nunca ensinei ninguém a jogar futebol, mas acho que em uma fase de minha vida abracei a missão de ensinar meninos a sonhar.
Eles acreditaram e hoje eu acredito muito mais ainda.
Não sei... Estou pensando em quando me aposentar, voltar à atividade de treinador.
Você acredita?