sexta-feira, 15 de agosto de 2008

ESPÍRITO DE ELEFANTE

As Olimpíadas estão alimentando a alma dos estrangeiros que vão em frente ultrapassando o Brasil como verdadeiros carros de Fórmula Um diante de um calhambeque dos anos 30. Todos os dias, medalha em cima de medalha para a China, Estados Unidos, Coréia, Japão, Alemanha, Itália, dentre outros nem tão ricaços assim. É como um vestibular em que o Brasil fosse um estudante do ensino fundamental, daqueles que não gostam de estudar, concorrendo com estudantes disciplinados que pagam os melhores cursinhos e são egressos das melhores escolas particulares do país.
Não é possível que um povo tão valioso seja tão incompetente que revele tão poucos talentos diferenciados a ponto de ficar entre as últimas nações em qualidade competitiva no esporte. Faz-me lembrar da história do elefante de circo. Quando pequeno, amarram uma corrente em uma das patas do animal e prendem em um toco. o elefante fica sempre andando em círculo e naquele pequeno espaço é que se resume o seu mundo. Ele tenta ir mais longe mas a corrente prende pela pata e no início cria uma ferida. Com o tempo ele se acostuma e fica ali. Naquele mundo resumido de alguns metros, o treinador ensina ele a sentar, a se abaixar, a andar com uma pata erguida. A arma é a corrente. Se o elefante não obedece ele puxa a corrente e azar da grossa pata do elefante.
Quando mais crescido e já acostumado com as pessoas e com a presença do treinador, o elefante é levado ao picadeiro, soltam a corrente colocam um toco no centro mas deixam ele com a argola presa na pata. O elefante fica sempre em círculos, nunca sai do lugar e como ainda tem a impressão de estar preso, exibe-se com as ordens do treinador, fazendo tudo como o treinador manda, com medo de machucar a pata.
Nos países ricos, as famílias e o governo ficam procurando elefantes humanos. Quando os encontram, prendem suas patas e fazem eles obedecerem exatamente o que os treinadores mandam. De tanto repetirem as orientações dos treinadores, vão se aperfeiçoando e de elefantes humanos viram super atletas.
No Brasil os elefantes humanos vivem livres e não se submetem a ficar em círculo nos tocos. O talento que possuem também é muito significativo. São criativos e inteligentes. Os brasileiros são tão inteligentes que para não se submeterem ao cansativo mundo em torno do "toco" preferem desenvolver as apresentações no picadeiro olímpico com equipes. É da lei do menor esforço e do conjunto harmônico dos brasileiros dos esportes coletivos que surgem os melhores resultados. Aí somos melhores e enfrentamos qualquer bandeira de igual para igual.
Hoje um ouvinte do meu programa da tarde ligou e reclamou dizendo "Que merda é este país que não se presta para formar super atletas!!!"
Ouvi com paciência e não contrariei o ouvinte. Provavelmente ele não tenha percebido as lágrimas de dor da nossa lady da ginástica olímpica. A Jade viveu os últimos anos em torno de um toco com uma corrente no delicado tornozelo. As lágrimasde dor pelas feridas fazem parte do cotidiano da super atleta. Ela é um exemplo de que o Brasil é tão variado que também tem exceções e ela é uma exceção. Se ela estivesse numa equipe de volei para baixinhos, talvez fosse a melhor dentre todas do mundo, pois não seria solitária a sua luta no picadeiro olímpico.
O ouvinte não sabe, mas ela já deve ter percebido que o legal não é ser um super atleta. A medalha é só um pedaço de metal.
Convenhamos. Prefiro muito mais os elefantes da Índia. Eles são alegres, experts em carregar seus mimosos donos na garupa. Eles exprimem felicidade, sacodem as orelhas e o rabinho. Eles nem têm medo de formiga!
O Brasil é um país magnífico. Seu povo é bom por natureza. É o único lugar do mundo onde todas as raças, religiões e etnias conseguem se suportar e quando tem uma desavença, o motivo ao invés de ser a religião ou a raça, é o amor ou a cachaça.
Para que ser o melhor país olímpico?
De que vale ser um elefante preso em um toco?
A nossa ídolo Jade que me desculpe, pois respeito seu talento e seu sacrifício por um povo cheio de elefantes da Índia.
Mas ocorre que aqui não vivemos em um circo e, com base no exemplo dos políticos, este país tem vocação para ser um Parque de Diversão.
Se serve como consolo, torço para que menos brasileiros se preocupem em ganhar medalhas. Mais vale um brasileiro com espírito de elefante indiano que um super atleta chinês sem espírito.